sábado, 14 de junho de 2014

Liberdade - Fernando Pessoa


Autor: Fernando Pessoa

"Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca..."

Eu escolhi este poema de Fernando Pessoa porque este autor expressa sempre originalidade em todos os seus poemas, tanto o ortónimo como os heterónimos.

Neste poema o sujeito poético expressa uma satisfação por não ter obrigações a cumprir, expressa também que o tempo passa "bem ou mal" e ao longo desse tempo nós todos vamos mudando, não sendo iguais àquilo que éramos originalmente. Com a expressão: "E a brisa [...] como tem tempo, não tem pressa..." o sujeito poético pretende divulgar a mensagem de que ao termos demasiado tempo na vida não temos pressa de aproveitá-la. Devemos aproveitar a vida e vivê-la em vez de gastá-la nas obrigações a cumprir.

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